Transportes Brasil

O FIO DA MEADA - 17/03/2010

 

Não é sem tempo que se começa a discutir no Brasil os gargalos logísticos no sistema portuário e no seu entorno. Aliás, esta é uma discussão já com grande atraso e que demonstra, logo de cara, a ineficiência nas ações do Ministério dos Transportes, que deveria ter o nome mudado para Ministério das Rodovias, ou das Transportadoras Rodoviárias de Carga.

É claro que há um pouco de exagero nessa alusão, pois a nossa cultura rodoviarista, que impõe mais de 90% do transporte de cargas por esse modal não é de agora. Ela está impregnada há décadas, o que é um atraso em todos os sentidos. Mas também já se debate a questão das ferrovias, com tanto ou maior atraso, expondo as falhas em especial nas zonas produtoras, da alta agricultura, dos campos de exportação de soja, de café, de algodão e dos canaviais que produzem açúcar. A reconhecida inexpressividade do setor ferroviário no Brasil desbravado heroicamente pelo Barão de Mauá no século XIX começa a tentar a mudança de rumo e de trilhos, com investimentos em novas malhas, resgatando outras tantas em situação de abandono e participando já com alguma ação no sistema portuário, como é o caso de Santos. Há ainda muitos trilhos a serem implantados e muito investimento pela frente.

Agora se debate também o setor aquaviário, que engatinha no Brasil, apesar das enormes bacias hidrográficas a cortar o País de norte a sul e de leste a oeste.

E o transporte por cabotagem, a navegação costeira entre portos brasileiros, que já teve dias de glória até meados dos anos de 1970, tenta recuperar o tempo perdido em meio à falta de incentivos e de custos operacionais superlativos. Até mesmo os trabalhadores avulsos, há alguns meses, deram sua contribuição na forma de descontos salariais para que esse modal retome as atividades, em especial no Porto de Santos e no transporte de contêineres e de automóveis.

Outro setor logístico que já ganha alguma expressão é o do sistema de transporte por dutos. Alguns planos considerados mirabolantes já apontam para esse modal como factível, como em trechos de moderada distância.

Esse quadro desanimador que passa por alguns dos modais de transporte aponta para dois cenários: que o Brasil está há décadas atrasado na efetivação de alguns e que há pela frente muito trabalho a fazer.

Mas, como diz o ditado que um país que pensa pequeno não se desenvolve, é preciso pensar macro, pensar plural, encontrar o fio de meada para reorganizar esses modais e dar a todos a mesma oportunidade de crescimento.

Ao que se sabe não há um plano macro nas agendas do Governo Federal para incentivar outros modais, que não o rodoviário, para dar maior abrangência e facilidade de escoamento às cargas, especialmente as de exportação. Um plano pífio anunciado recentemente mais como um anseio do presidente Lula, de melhorias no setor logístico, deixa a desejar e soa mais como um ato eleitoreiro em fim de gestão.

O País perdeu muito tempo com divisões entre agentes públicos de ação restrita e de siglas abundantes, como ocorreu até há pouco tempo com o Ministério dos Transportes, até que se separou dessa pasta o setor portuário com a criação da Secretaria Especial de Portos.

Tudo isso sem falar de um sistema que vai esperar sentado por muito tempo, o da multimodalidade, ou o uso conjunto de múltiplos modais de transporte, com um único documento de contrato, o que facilitaria muito a vida da economia brasileira se as peças que o compõem estivessem afinadas e funcionando com êxito, sem prevalência exagerada de um ou de outro meio.

Para isso é preciso pensar grande. E não é o que temos feito por estas plagas há muito tempo.    

 

Fonte: PORTOGENTE Autor: Editorial

 


 
     
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